Entrevista com Sabrina Compagno, Consultora de Compras e Merchandising

A arte e a ciência da compra de moda: uma entrevista com Sabrina Compagno

A compra e o merchandising de moda estão no cerne do que vestimos, do que vemos nas lojas e de como as tendências se tornam parte do nosso dia a dia. Para explorar essa área crucial da indústria da moda, conversamos com Sabrina Compagno, uma experiente compradora de moda e consultora de merchandising com mais de 15 anos de experiência. Sabrina também dá aulas para aspirantes a profissionais, compartilhando seus insights em palestras e workshops. Nesta entrevista, ela oferece conselhos valiosos para quem busca ingressar ou crescer neste campo dinâmico.

Entrevista por Anamaria Tushishvili

Sabrina Compagno - Buying and Merchandising Advisor

Sabrina Compagno

é um Consultor de Compras e Merchandising de Moda com mais de 20 anos de experiência na indústria da moda contemporânea e de luxo.

Ela trabalha com marcas e varejistas, ajudando-os definir estratégia de produto, otimizar sortimentos, e alinhar a criatividade com os objetivos comerciaisApaixonada por educação, ela ministra cursos e workshops de pós-graduação, orientando alunos a desenvolver habilidades analíticas e criativas para prosperar no atual cenário da moda em rápida mudança.

Anamaria Tushishvili - Career advisor

Anamaria Tushishvili

Global Headhunter | Recrutamento Executivo | Líder de Equipe de Recrutamento para MENA na BYYD | Fundador da TalentVibe

TalentVibe é uma agência de recrutamento líder, especializada nos setores de beleza, moda e publicidade — conectando empresas visionárias com os melhores talentos e ajudando candidatos a conseguirem cargos de destaque na região MENA e na Europa.

Ensinando a comprar moda: unindo teoria e prática

A abordagem de ensino da Sabrina combina conhecimento básico com aplicação prática. “Nas minhas aulas, ensino os conceitos básicos de compra e merchandising de moda: como planejar coleções, entender tendências, gerenciar orçamentos, e analisar dados de vendas”, explica ela. Os alunos participam de estudos de caso reais, simulações e exercícios de seleção de produtos. O objetivo? Equipar futuros compradores com habilidades de tomada de decisão que reflitam a realidade do setor.

Habilidades essenciais para os comerciantes de hoje

Quando questionada sobre as habilidades técnicas e interpessoais mais importantes para iniciantes, Sabrina enfatiza alfabetização e flexibilidade de dados“Este trabalho é sobre números”, diz ela.Compreender os dados de vendas, gerenciar o estoque e ser capaz de agir rapidamente são essenciais.” Em termos de habilidades sociais, o trabalho em equipe, a comunicação e a adaptabilidade são essenciais. Ela incentiva os alunos a dominar ferramentas como Excel, sistemas PLM, Power BI, e Quadro, que são amplamente utilizados em empresas de moda atualmente.

Este trabalho é sobre números. Compreender os dados de vendas, gerenciar o estoque e ser capaz de agir rapidamente são essenciais

Construindo uma rede: online e offline

Fazer networking, observa Sabrina, está mais fácil do que nunca graças às plataformas digitais. “O LinkedIn é seu melhor amigo”, diz ela, recomendando que os alunos criem um perfil profissional e participem ativamente de webinars e comunidades de moda. Offline, participando feiras de negócios, visitas a showrooms, e o voluntariado em eventos pode abrir portas. "A moda tem tudo a ver com pessoas e conexões."

Equilibrando Criatividade e Análise

A compra de moda é mais criativa ou analítica? "É 50/50", Sabrina diz: "Você pode aprender números, mas a criatividade é mais difícil de ensinar." Em suas aulas, ela incentiva os alunos a criar coleções com base em pesquisas de tendências e dados de vendas, ajudando-os a unir o instinto à lógica. "Entender os dois lados é essencial para ter sucesso na hora de comprar."

Um dia na vida de um comprador de moda

Não há dois dias iguais no papel de Sabrina.Todas as manhãs começam com uma revisão de vendas e estoque,", ela compartilha. "Depois, são realizadas reuniões com fornecedores, revisão de tendências e alinhamento com as equipes de marketing e planejamento." O trabalho é uma mistura de análise, criatividade e colaboração multifuncional, mantendo o trabalho dinâmico e envolvente.

O trabalho do comprador de moda é uma mistura de análise, criatividade e colaboração multifuncional

Como a indústria mudou

Refletindo sobre seus 15 anos de carreira, Sabrina observa que o setor evoluiu significativamente. “Antigamente, havia mais tempo para julgamento pessoal e relacionamentos. Agora tudo acontece mais rápido e as decisões são mais baseadas em dados.” Ela vê aspectos positivos e negativos nessa mudança, citando melhorias em sustentabilidade e eficiência por meio da tecnologia, mas também um afastamento da qualidade e da individualidade.

No processo de compra de moda atual, tudo acontece mais rápido, e as decisões são mais baseadas em dados do que em gostos.

Começando na compra de moda

Para os recém-chegados, Sabrina sugere uma mistura de formação acadêmica e experiência prática. "Comecei como assistente de designer, depois fiz um curso de compras no Istituto Marangoni, o que me levou ao meu primeiro emprego na YOOX." Ela também valoriza a experiência no varejo:

Muitos compradores começam como atendentes de loja. Estar no chão de loja ensina o que vende e por quê.

Online vs Offline: Mundos Diferentes

Hoje, Sabrina trabalha em um ambiente omnicanal. "O varejo offline tem mais a ver com pessoas, emoções e altos custos operacionais", explica ela. "O online é baseado em dados, escalável e, às vezes, mais eficiente. O futuro está no equilíbrio entre os dois mundos."

O papel da IA na compra de moda

A inteligência artificial está começando a influenciar o papel dos compradores, reconhece Sabrina. Da previsão de demanda à experiência do usuário, A IA oferece novas ferramentas, mas ela alerta contra vê-la como uma substituta. "Ela deve capacitar os profissionais, não substituí-los. A intuição e a criatividade humanas ainda são insubstituíveis.”

A IA deve capacitar os profissionais de compras de moda, não substituí-los

Conselhos finais para aspirantes a compradores

O conselho de Sabrina para si mesma quando era mais jovem e para os alunos é simples, mas poderoso: Seja curioso, faça perguntas e não tenha pressa. Construa relacionamentos reais e não tenha medo dos números, eles fortalecerão suas ideias criativas.


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Entrevista completa

Quais são as três habilidades técnicas e interpessoais necessárias para quem está começando a trabalhar com merchandising no setor? E quais ferramentas digitais os alunos devem aprender hoje em dia? Qual é a mais nova e importante?

Essa é uma pergunta difícil. Mas, sabe, geralmente as pessoas acham que é preciso conhecer todas as marcas e se concentrar muito nisso — como quem é o diretor criativo, e assim por diante. Claro, isso é importante, mas, na realidade, esse trabalho gira em torno de números.

Eu diria que as principais habilidades técnicas são entender dados e saber como as coleções funcionam. Marcas vêm e vão, mas os números permanecem — eles realmente contam a história e orientam as melhores práticas. Além disso, gerenciar o estoque é crucial. Você precisa ser rápido para responder a rupturas de estoque e ágil na tomada de decisões, porque, no momento, tudo se resume a inventário e a manter um estoque equilibrado.

Quanto às habilidades interpessoais, o trabalho em equipe é muito importante. Alguns profissionais de marketing podem trabalhar de forma mais independente, mas, na realidade, tudo se resume a networking e colaboração. A comunicação é fundamental — você precisa conseguir se comunicar com todos os departamentos de forma clara e eficaz. E a flexibilidade é essencial, porque tudo está em constante mudança. Você precisa se manter adaptável e pronto para mudar de direção quando necessário.

E, sabe, eu sempre sugiro que eles aprendam Excel — especialmente em um nível avançado. É importante se familiarizar com sistemas PLM e outros softwares usados para gerenciar coleções, bem como com ferramentas de dados como Power BI ou Tableau. Essas ferramentas são amplamente utilizadas em muitas empresas hoje em dia.

Que conselho você daria aos alunos sobre como construir conexões fortes de networking, tanto online quanto offline? Há algum site ou plataforma específica que eles possam explorar para se conectar com profissionais de diferentes áreas da indústria da moda? Como eles devem abordar isso? Se você pudesse compartilhar suas sugestões, seria muito útil.

Hoje em dia, é definitivamente mais fácil do que no passado fazer conexões — o networking se tornou muito mais acessível. Atualmente, a principal plataforma para networking profissional é o LinkedIn. É uma rede social para carreiras e realmente funciona.

Online, sempre recomendo aos alunos que criem um perfil forte no LinkedIn, participem de webinars de moda e se tornem parte de comunidades do setor. Ótimas plataformas incluem WGSN, Negócios da Moda, e outros que ajudam você a se manter constantemente atualizado — porque hoje em dia, cada informação conta.

Offline, é muito importante participar de feiras. Onde quer que você esteja, tente encontrar eventos relevantes — especialmente em países como Itália, Reino Unido ou França, que são centrais no cenário da moda europeia. É claro que também há ótimas feiras nos EUA. Até mesmo ajudar em eventos ou visitar showrooms pode gerar oportunidades reais. É por isso que eu sempre digo que a moda tem tudo a ver com boas pessoas e conexões fortes.

A compra de moda parece incluir tanto o lado analítico quanto o criativo. Qual deles é mais importante para construir uma carreira em merchandising de moda? E como você ajuda os alunos a desenvolver ambas as habilidades?

Essa também é uma pergunta difícil. O ideal seria um equilíbrio de 50/50. Mas acredito que criatividade é algo com que você nasce, enquanto números — embora difíceis para alguns — podem ser aprendidos. Então, se tivéssemos que atribuir peso, eu daria uma ligeira vantagem à criatividade.

Dito isso, sempre ajudo os alunos a conectar números e criatividade. Fazemos exercícios em que eles analisam dados de vendas e, em seguida, criam um sortimento visual com base nas tendências atuais. Eles pegam imagens da internet para montar uma coleção de amostras, e então peço que expliquem suas escolhas: Por que esse estilo? Por que esse preço? Isso os ajuda a desenvolver tanto o gosto quanto o senso comercial, essenciais para a função de comprador.

Você poderia compartilhar como é um dia de trabalho típico para você como comprador ou comerciante de moda?

Cada dia é um pouco diferente, mas uma tarefa consistente é verificando as vendas e o estoque logo de manhãMesmo que os números não mudem drasticamente todos os dias, é importante monitorar as tendências — especialmente no final da semana ou do mês, quando ocorrem mudanças importantes.

Depois, vem a comunicação com os fornecedores, a revisão de tendências, a preparação e a análise de pedidos. Você também trabalha em estreita colaboração com equipes como marketing e planejamento para garantir que o produto esteja alinhado com a marca e a estação. Portanto, é um processo constante de coordenação. No geral, é uma mistura de números, criatividade e trabalho em equipe — e cada dia traz algo novo.

Com seus 15 anos de experiência em moda, quais mudanças significativas você viu? Como era o visual no começo e o que mudou hoje? Há aspectos do passado que você sente falta ou coisas que você valoriza mais agora?

A moda mudou muito — tanto para o bem quanto para o mal. No passado, havia mais tempo para relacionamentos pessoais e para o julgamento individual. Hoje, as coisas acontecem muito mais rápido, e os dados desempenham um papel muito maior em cada decisão.

Dito isto, eu aprecio como a tecnologia melhorou a eficiência e tornou certos processos mais sustentáveis e econômicos. Por exemplo, processos que antes exigiam muitos recursos financeiros agora podem ser realizados de forma mais rápida e econômica.

No entanto, sinto que nos afastamos do lado humano do negócio. Antes, a personalidade do designer ou a identidade da marca desempenhavam um papel muito maior. Agora, tendências dominam, e infelizmente, isso levou à superprodução e ao consumo em massa.

Cerca de 20 anos atrás, era mais sobre qualidade e artesanato — especialmente com o “Made in Italy” sendo um símbolo de excelência. Hoje, muitos consumidores perderam a fé nas marcas, e acredito que o futuro mudará para individualidade e estilo pessoal em vez de tendências de massa.

Então, estamos realmente olhando para três fases: o passado, o presente e o que está por vir. E acredito que estamos prontos para o futuro.

Que conselho você daria ao seu eu mais jovem? É a minha pergunta favorita para profissionais experientes. O que você teria feito diferente ou com o que se preocuparia menos?

Essa é uma pergunta adorável. Eu diria ao meu eu mais jovem para não se estressar tanto. As coisas levam tempo, e a experiência realmente molda sua perspectiva. Eu me lembraria de confie no processo, mantenha a curiosidade e esteja aberto a mudanças. É importante manter os pés no chão, mas também correr riscos quando a oportunidade parecer certa.

E o mais importante: seja sempre gentil consigo mesmo enquanto aprende.

Sim, então eu diria a mim mesma para reservar um tempo para aprender e fazer perguntas. Seja sempre muito curiosa — e se não souber de algo, não tenha vergonha de perguntar. Você é jovem e seu trabalho é aprender. Acredito que a curiosidade é o que realmente impulsiona uma carreira.

A moda costuma parecer muito acelerada, mas as melhores carreiras evoluem passo a passo. Não tenha pressa para "chegar lá" rapidamente, porque, ao longo do caminho, grandes mudanças costumam acontecer de forma inesperada. Outro conselho que eu daria é: não tenha medo de números. Eles realmente ajudam você a tomar melhores decisões criativas. E sempre se concentre em construir relacionamentos reais, porque muitas vezes as pessoas que você conhece ao longo do caminho se tornam suas maiores oportunidades.

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